sábado, 28 de agosto de 2010

Renovando Votos…


Se você quer ser minha namorada
Ah, que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha, essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser...
Você tem que me fazer um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer...
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque...
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você...
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
Os seus braços o meu ninho no silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.

SiC…

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A rosa dourada

"Acabo de jantar, tomo meu café, e fico contemplando o quadro diante de mim: foi colocado dentro de um rio e ali repousou por um ano, esperando que a natureza desse o retoque final ao trabalho da pintora.

Metade da pintura foi carregada pelas águas e pelas intempéries, de modo que as bordas são irregulares; mesmo assim, posso ver ainda parte da bela rosa vermelha, pintada sobre um fundo dourado. Conheço a artista. Lembro-me de 2003, quando fomos juntos até uma floresta dos Pirineus, descobrimos o riacho que naquele momento estava seco, e escondemos a tela debaixo das pedras que cobriam seu leito.

Conheço a artista, Christina Oiticica. Neste momento, está fisicamente a 8 mil quilômetros de distância, e ao mesmo tempo sua presença está em tudo que me cerca. Isso me alegra: mesmo depois de 29 anos de casados, o amor é mais intenso que nunca. Jamais imaginei que isso fosse acontecer: vinha de três relações que não tinham dado certo, e estava convencido que não existe amor eterno, até que ela apareceu – em uma tarde de Natal, como um presente enviado por um anjo. Fomos ao cinema. Fizemos amor no mesmo dia. Eu pensei comigo mesmo: “não vai durar muito”. Durante os dois primeiros anos de relação, estava sempre preparado para que um dos dois fosse embora. Durante os cinco anos que seguiram, eu continuava achando que era apenas acomodação, e em breve cada um seguiria seu destino. Tinha convencido a mim mesmo que qualquer compromisso mais sério iria me privar de “liberdade” e impedir-me de viver tudo aquilo que desejava.

Vinte nove anos depois continuo livre – porque descobri que o amor jamais escraviza o ser humano. Sou livre para virar a cabeça e vê-la dormindo ao meu lado – essa é a foto que tenho em meu telefone celular. Sou livre para sairmos, caminharmos, continuar conversando, discutindo – e eventualmente brigando, como sempre. Sou livre para amar como nunca amei antes, e isso fez uma grande diferença em minha vida.

Volto ao quadro e ao rio. Estávamos no verão de 2002, eu já era um escritor conhecido, tinha dinheiro, julgava que meus valores básicos não haviam mudado, mas como ter absoluta certeza? Testando. Alugamos um pequeno quarto em um hotel de duas estrelas na França, onde começamos a passar cinco meses por ano. O armário não podia crescer, de modo que limitamos nossas roupas. Percorríamos as florestas, jantávamos fora, ficávamos horas conversando, íamos ao cinema todos os dias. A simplicidade nos confirmou que as coisas mais sofisticadas do mundo são justamente aquelas que estão ao alcance de todos. Para meu trabalho tudo que precisava era um computador portátil. Acontece que minha mulher é…pintora.

E pintores precisam de gigantescos ateliês para produzir e guardar seus trabalhos. Não queria de maneira nenhuma que sacrificasse sua vocação por mim, de modo que me propus a alugar um local. Entretanto, olhando em volta, vendo as montanhas, os vales, os rios, os lagos, as florestas, ela pensou: por que não trabalho aqui? E por que não permito que a natureza trabalhe comigo?

Daí nasceu a idéia de “armazenar” as telas ao ar livre. Eu levava o laptop e ficava escrevendo. Ela se ajoelhava na grama e pintava. Um ano depois, quando retiramos as primeiras telas, o resultado era original e magnífico.

Vivemos naquele pequeno hotel dois anos inesquecíveis. Ela continuou a enterrar suas telas, já não mais por necessidade, e sim por ter descoberto uma nova técnica. Amazônia, Mumbai, Caminho de Santiago, Lubijana, Miami. Hoje está longe, mas amanhã, ou na semana que vem, estará perto de novo. Dormindo ao meu lado. Contente, porque seu trabalho começa a ser reconhecido no mundo inteiro.

Neste momento, olho apenas a rosa. E agradeço ao anjo que me deu dois presentes naquele natal de 1979: a capacidade de abrir meu próprio coração, e a pessoa certa para recebê-lo."

(Paulo Coelho)

domingo, 15 de agosto de 2010

Na pessoa do Pessoa.


"Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...

Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.

Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te :

Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão..."

Fernando Pessoa